A terra é a mãe, mas a linguagem é o pai de tudo. Se a terra se abre e recolhe, guardando a semente para gerar vida, foi a linguagem que penetrou e semeou. Isto nos mostra o seu sentido generoso, sua transcendência paternal e perdurável em nossa vida; sua condição predominante no destino humano. Simplesmente reafirmo a definição filosófica concreta e certeira de Heidegger: “A linguagem é a causa do ser”. |
A linguagem é a invenção maravilhosa do homem, ciência da paciência, a mais antiga e sólida instituição de nossa sociedade. Arte de sortilégio evocador, como dizia Baudelaire, o sangue do espírito, como afirmava Manoel de Unámuno. Sem a linguagem não existe raça, pátria, povo. A história também não existiria em toda amplidão e significado do termo. Não se pode separar o gênesis das línguas, do gênesis dos povos. A linguagem é o órgão mais pleno e relevante do caráter dos seres humanos, de sua personalidade e ação; é o idioma, a maneira como este ou aquele povo se comunica. Cada idioma é uma soma de hábitos. Forma um espelho fiel no próprio tronco familiar da tradição e raízes sociais de sua cultura. A linguagem nos dá a medida exata dos povos. De sua forma de ver, sentir e entender as coisas. É uma essência vital que se superpõe aos vínculos econômicos e políticos. Vai do instinto à razão; da alma à inteligência. É condição determinante da própria fisionomia humana e de sua fisiologia. Cada povo tem uma maneira particular de entendimento determinado por sua linguagem, ditadora inapelável na escola de seus estilos de vida. A maneira de ser das pessoas, suas transformações sociais, políticas e econômicas, são inseparáveis da evolução da linguagem como sistema de comunicação.Os modos de falar estão entrelaçados com os de viver e atuar. Todo idioma, rico em substância poética e em associações metonímicas, é abundante em metáforas, as quais precedem a linguagem concreta, influenciando-lhe de maneira definitiva em seus significados conotativos. Na metáfora, com seu grande poder de transferência, o homem encontra o caminho direto para comungar com o mito, que é uma forma de comover e comover-se. A linguagem expressa a faculdade, para buscar mediante a representação de semelhanças, suas afinidades com o próprio ser e o universo que o rodeia. De acordo com o seu amadurecimento, a linguagem ganha em recursos retóricos e a metáfora afina o seu poder persuasivo. É a linguagem demonstrando sua capacidade de fixação e penetração, tanto individual, como coletiva. A linguagem manda mensagens que estão a serviço de uma finalidade, por mais elementar que esta seja, de uma pessoa a outra, ou de uma pessoa a um grupo. A linguagem é a comprovação de que as coisas só passam a existir depois de serem batizadas, aprovadas e apontadas pela linguagem ao seu povo. O povo só reconhece o que a linguagem indica, porque o povo é aquilo que fala.
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