Nasci com o nome de Ucayalí
Depois sou o Lago Laurí,
Nos Andes peruanos, no alto das montanhas,
Límpido, suave e lento do ventre da terra,
Rasgo as entranhas.
E vou deslizando a 10º de latitude sul,
Vou rumando para o Norte,
E com sorte, com forte gradiente e vertentes,
Mudo para a direção leste e troco de nome,
Então, sou Maranhão, e entro no Brasil.
Pareço um furacão.
Já chego com três vertentes e engrosso o caldo;
Crisnejas, Chamayo, Cenepa, são meus afluentes,
E me aumentam o saldo, de repente.
Passo a ser Solimões pleno de convicções.
Recebo o Javari, Curuca e Ituí,
Chegam o Jandiatuba, Putumayo e o Içá.
Correndo de muito longe, do Equador,
Da Colômbia, do Peru para o Brasil,
Todos vêm correndo a mil
Pro Solimões abraçar.
O Igara, Paraná e o Rio Jutaí,
Da Colômbia até aqui
Juntam-se ao Rio Bia.
Muito bom pra pescar,
Pois corre de vagarinho
Se juntando ao Rio Zinho
E abraçando ao Solimões
E é água aos borbotões
Que são purificações de infinito carinho.
O Rio Mutum, vermelho qual urucum,
Vem cair no Juruá. Então pra se arrumar
E não ser balneatório se junta com o Gregório,
Caquetá e Japurá, Apaporis, Jamundá.
E é um junta juntar, que já não pode parar
São todos filhos do mar.
Depois o Cachunari que vem de longe daqui,
Que vem com o Rio Caguan
Seguido pelo Yari, depois o Rio Tefé.
Importante como é, inaugura até cidade.
Cobrando celebridade.
O Lago do Coari fica logo mais abaixo
Parece mais um riacho comparado ao Solimões
E então o Tapajós com águas que são lençóis
Cobrindo as extensões aonde vai se deitando
Rapidamente passando agradando ao Solimões.
E aí chega o Purus, sai da frente, ai Jesus.
Com ele chega Ipixuna, Tapauá, Mucuim.
Ituxi, Sepatiní, Rio Acre, Rio Iaco,
O caudaloso Chandless,
Todos como afluentes importantes ascendentes
Do Rio que os conduz,
Partiram de suas nascentes
E agora bem potentes
Deságuam suas correntes
No nobre Rio Purus.
Ai chega o Rio Napo correndo pela esquerda
O Javari sem dar perda abraça o Jandiatuba.
O Rio Iça vem juntar forças com o Jutaí
E o Rio Juruá se unindo ao Japuíra
Assistem junto chegar Coari e Piurini
Afluentes do Purus rio dos Guaicurus
Tribo do grande Amazonas
Que dominou estas zonas
Dentro de gambadonas.
Mas falta o Rio Madeiras
Que com suas corredeiras
Chega ao Manacapuru.
Que não respeita barreiras
E cava nas ribanceiras
Deixando a terra ferida
E provocando o fenômeno
Que chamam terras caídas.
O Rio Uatamã onde canta o curimã
Depois vem o Nhamundá
Bem difícil de pescar
Impossível de remar
Nas suas águas barrentas.
Chega o Manacapuru fazendo seu reboliço
Parece que tem feitiço onde o boto faz morada.
E aí a mulherada ganha sua gravidez
Mas foi o boto que fez e isso é coisa sagrada.
E o Tapajós entrando
Vai pedindo mais espaço
É vai fazendo arregaço
Mostrando que é valente.
O Curuá imprudente
Se perde já na entrada
E não tem força pra nada
Perde a briga de repente.
O Rio Maicuru
Se junta ao Uruará
E juntos com o Xingu
Pedem licença ao entrar.
E logo o Rio Jarí
Vai chegando sem pedir
E não se pode iludir
A força contrária é demais.
Então com mais paciência
Começa a pedir clemência
Pois a sua resistência
Terminou, já não tem mais.
Ganha terreno, largura, profundidade, e na briga,
Recebe o Muriaé, o Paraíba e Tapajós, antes do Negro,
Que espera um pouco à frente,
Escuro, misterioso, caudaloso e valente,
Que não quer se misturar.
É um rio forte e limpo, sem subterfúgio.
E o Solimões grosseiro, estrangeiro, um rio sujo,
Tem que partir pra luta e enfrentá-lo; até ganhar.
E pelo cansaço vence e se torno imenso.
O que ajuda nessa luta é o Madeira,
Turvo como ele entra na busca do mesmo Atlântico sonhado.
O Xingu chega cantando, o Trombeta trombeteando,
E logo o Tocantins, o Marapá, o Japurá, o Iça, o Parú,
O Jarí, o Branco, o Javari, o Juruá e assim vou crescendo.
Com Pastaza e Napo sinto que não vou podendo
E não podendo, minhas forças vão se perdendo.
Estou chegando ao mar, de Amazonas vou deixar de ser.
Mesmo assim ainda trato de correr
E entro mar adentro com toda a força que tenho.
E descubro que de nada vale todo o meu empenho,
Minhas forças vou perdendo, vou me arrastando, sofrendo
E o mais poderoso é quem ganha.
Vou rasgando as entranhas de um oceano azulado,
E cada vez mais cansado, sinto que vou definhando.
Não me entrego, vou lutando e minhas forças minguando.
E paro por já não poder
E nas águas do Atlântico simplesmente vou morrer.
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